O senador Roberto Requião (PMDB-PR)
não acredita que a presidente afastada Dilma Rousseff será bem-sucedida
na tentativa de reverter o processo de impeachment.
Em
entrevista à BBC Brasil, o ex-governador do Paraná - que, mesmo sendo do
partido do presidente interino Michel Temer, vê o processo de
impeachment como "golpe" - diz que Dilma não seria capaz de costurar as
alianças necessárias, propondo mudanças radicais em suas políticas,
"porque ela é muito teimosa".
Requião refuta ainda qualquer tipo
de pressão interna em seu partido por ser contrário ao impeachment e ao
governo interino de seu correligionário Michel Temer. "O PMDB não é o
partido nazista", afirma.
BBC Brasil - A participação em fóruns no exterior e o apoio
da comunidade internacional podem reverter o processo de impeachment?
Roberto Requião
- Acredito que o impeachment só seria revertido pela própria Dilma,
criando um a aliança para formar um governo de coalizão nacional, uma
mudança radical da política econômica, a busca pelo apoio popular, mas
isso dificilmente ela fará, porque é muito teimosa. Dilma vai seguir a
mesma linha em que estava governando, que é uma linha inaceitável.
BBC Brasil - Por que o senhor considera inaceitável?
Requião - Porque,
na verdade, ela começou a fazer o que o Temer quer fazer agora.
Privatizações, a visão neoliberal da economia, a globalização e
destruição de empresas públicas, cortes na saúde e na educação, cortes
na Previdência, precarização das leis de trabalho… enfim, é a reação do
capital vadio contra o Estado social.
BBC Brasil - Uma incapacidade do governo Temer poderia salvar o mandato da Dilma?
Requião - Dificilmente
salvará o mandato dela, mas pode levar a uma mudança da orientação da
política econômica do Brasil, com Dilma ou sem Dilma.
BBC Brasil - O senhor esperava, neste encontro em Lisboa, uma resposta dos países latino-americanos ao impeachment?
Requião - O
componente latino-americano do EuroLat mostrou uma coerência e uma
unidade impressionante em relação à democracia e rejeitou a interinidade
deste atual governo brasileiro. Isso é muito importante. (...) Envia
uma mensagem para a discussão da democracia no mundo, é um reflexo muito
positivo na história política recente, no período que estamos vivendo.
BBC
Brasil - O senhor defende uma nova eleição presidencial em outubro. É
possível realizar, sem muitos danos, um pleito tão importante em tão
pouco tempo?
Requião - A eleição elimina
os danos dessa transição. Dilma perdeu o seu próprio apoio porque
governou com a política econômica do adversário. Perdeu sua base e não
ganhou outra. E ainda por cima se relacionou mal com o Congresso
nacional. Temer foi eleito na mesma chapa da Dilma, ou seja, com a mesma
proposta política desenvolvimentista, nacionalista.
Mas ele
tenta agora uma virada absurda para uma visão neoliberal, um programa
muito parecido com o programa que destruiu a Grécia e sem a homologação
da opinião pública. Temer fica em uma dificuldade muito semelhante à da
Dilma, que é a falta de apoio da sociedade civil, da população
brasileira. E ele busca esse apoio da forma tradicional, dividindo
cargos no Congresso nacional, que tem uma representatividade altamente
questionável hoje em função do sistema eleitoral.
BBC Brasil - O senhor defende, então, eleições gerais e não apenas à Presidência?
Requião - O
importante é começar pela eleição presidencial, mas depois temos de
focar em mudar o sistema eleitoral. Já começamos a mudar. O Brasil já
aboliu o financiamento de pessoas jurídicas de campanha eleitoral, esse é
o primeiro passo e é muito importante.
BBC Brasil - Quais seriam os passos seguintes?
Requião - É
preciso acabar com essa multiplicidade absurda de partidos, que na
verdade são legendas negociais, que entram no jogo político para
negociar apoio e posições no Parlamento e fora dele. A reforma política é
essa, mas a reforma fundamental é econômica.
BBC Brasil - O posicionamento do senhor, contrário ao impeachment, tem causado alguma forma de pressão dentro do PMDB?
Requião - O
PMDB não é o partido nazista, é um partido que vive da diversidade de
opiniões. Na verdade, a minha opinião é a opinião histórica do partido,
os outros é que estão mudando.
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