quarta-feira, 18 de maio de 2016

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) não acredita que Dilma Rousseff conseguira reverter o processo de impeachment.

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) não acredita que a presidente afastada Dilma Rousseff será bem-sucedida na tentativa de reverter o processo de impeachment.

Em entrevista à BBC Brasil, o ex-governador do Paraná - que, mesmo sendo do partido do presidente interino Michel Temer, vê o processo de impeachment como "golpe" - diz que Dilma não seria capaz de costurar as alianças necessárias, propondo mudanças radicais em suas políticas, "porque ela é muito teimosa".
Requião refuta ainda qualquer tipo de pressão interna em seu partido por ser contrário ao impeachment e ao governo interino de seu correligionário Michel Temer. "O PMDB não é o partido nazista", afirma.


BBC Brasil - A participação em fóruns no exterior e o apoio da comunidade internacional podem reverter o processo de impeachment?
Roberto Requião - Acredito que o impeachment só seria revertido pela própria Dilma, criando um a aliança para formar um governo de coalizão nacional, uma mudança radical da política econômica, a busca pelo apoio popular, mas isso dificilmente ela fará, porque é muito teimosa. Dilma vai seguir a mesma linha em que estava governando, que é uma linha inaceitável.

BBC Brasil - Por que o senhor considera inaceitável?
Requião - Porque, na verdade, ela começou a fazer o que o Temer quer fazer agora. Privatizações, a visão neoliberal da economia, a globalização e destruição de empresas públicas, cortes na saúde e na educação, cortes na Previdência, precarização das leis de trabalho… enfim, é a reação do capital vadio contra o Estado social.

BBC Brasil - Uma incapacidade do governo Temer poderia salvar o mandato da Dilma?
Requião - Dificilmente salvará o mandato dela, mas pode levar a uma mudança da orientação da política econômica do Brasil, com Dilma ou sem Dilma.

BBC Brasil - O senhor esperava, neste encontro em Lisboa, uma resposta dos países latino-americanos ao impeachment?
Requião - O componente latino-americano do EuroLat mostrou uma coerência e uma unidade impressionante em relação à democracia e rejeitou a interinidade deste atual governo brasileiro. Isso é muito importante. (...) Envia uma mensagem para a discussão da democracia no mundo, é um reflexo muito positivo na história política recente, no período que estamos vivendo.

BBC Brasil - O senhor defende uma nova eleição presidencial em outubro. É possível realizar, sem muitos danos, um pleito tão importante em tão pouco tempo?
Requião - A eleição elimina os danos dessa transição. Dilma perdeu o seu próprio apoio porque governou com a política econômica do adversário. Perdeu sua base e não ganhou outra. E ainda por cima se relacionou mal com o Congresso nacional. Temer foi eleito na mesma chapa da Dilma, ou seja, com a mesma proposta política desenvolvimentista, nacionalista.

Mas ele tenta agora uma virada absurda para uma visão neoliberal, um programa muito parecido com o programa que destruiu a Grécia e sem a homologação da opinião pública. Temer fica em uma dificuldade muito semelhante à da Dilma, que é a falta de apoio da sociedade civil, da população brasileira. E ele busca esse apoio da forma tradicional, dividindo cargos no Congresso nacional, que tem uma representatividade altamente questionável hoje em função do sistema eleitoral.

BBC Brasil - O senhor defende, então, eleições gerais e não apenas à Presidência?
Requião - O importante é começar pela eleição presidencial, mas depois temos de focar em mudar o sistema eleitoral. Já começamos a mudar. O Brasil já aboliu o financiamento de pessoas jurídicas de campanha eleitoral, esse é o primeiro passo e é muito importante.

BBC Brasil - Quais seriam os passos seguintes?
Requião - É preciso acabar com essa multiplicidade absurda de partidos, que na verdade são legendas negociais, que entram no jogo político para negociar apoio e posições no Parlamento e fora dele. A reforma política é essa, mas a reforma fundamental é econômica.

BBC Brasil - O posicionamento do senhor, contrário ao impeachment, tem causado alguma forma de pressão dentro do PMDB?
Requião - O PMDB não é o partido nazista, é um partido que vive da diversidade de opiniões. Na verdade, a minha opinião é a opinião histórica do partido, os outros é que estão mudando.

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